Recentemente muito foi dito sobre os incidentes da temporada 2019 no Monte Everest e o que se pode perceber é que muita gente “montanhista” tem encarado o desafio sem a adequada preparação.

Vários fatores são fundamentais para a prática do montanhismo de altitude e até mesmo montanhismo em menos altitude ou travessias, neste Dicas de Especialistas  o Educador Físico, Especialista em Fisiologia do Exercício e proprietário da Go On Outdoor Assessoria Esportiva e ultra trail runner, Raphael Bonatto faz uma análise dos benefícios da preparação física para se poder ter uma experiência adequada na montanha e poder evitar riscos como o mal de altitude.

Como ele mesmo coloca e sabemos na prática: a montanha não aceita pessoas despreparadas.

As bases do limite do ser humano na capacidade aeróbica

O corpo humano é planejado para movimentos e atividades, inclusive de nível extenuante, como subir o Monte Everest, todavia a atividade física de intensidade leve e moderada deve fazer parte do estilo de vida padrão das pessoas.   Não se pode esperar que o organismo humano tenha funcionamento ótimo e permaneça saudável por longos períodos se ele não for adequadamente utilizado.

Os limites do rendimento humano são cada vez mais colocados à prova, sendo de interesse não só dos pesquisadores e técnicos, mas também de atletas e da população em geral.  A cada avanço que se faz temos a pergunta: até onde conseguiremos chegar?

VO2max como métrica da capacidade aeróbica

Para responder esta pergunta precisamos conhecer os processos fisiológicos dos atletas de elite em diferentes esportes, maximizando desta forma a prescrição dos treinamentos e potencializando seus resultados, adequando às características específicas de cada pessoa.

Muitas informações referentes aos aspectos que contribuem para o rendimento aeróbio foram obtidas, simplesmente, descrevendo as características fisiológicas de atletas de elite em esportes como, por exemplo, corrida, ciclismo e natação. Os numerosos determinantes do rendimento aeróbio tem sido organizados em um modelo que integra fatores como o consumo máximo de oxigênio (VO2max), limiares relacionados a resposta do lactato sanguíneo ao exercício e a eficiência muscular, considerados como as mais importantes variáveis do desempenho aeróbio.

Em outras palavras, o VO2 máximo é a taxa máxima que o organismo de um indivíduo tem de captar e utilizar o oxigênio do ar que está inspirando para gerar trabalho, sendo expressado na unidade ml/kg/min (mililitros por quilograma de peso por minuto = mililitros de oxigênio absorvidos por quilograma de peso corporal no espaço de tempo de 1 minuto, pode ser chamado de valor relativo, ADAMS 1994).

Para atletas de alto rendimento, observa-se que em adição a um elevado valor de VO2max, o sucesso em eventos aeróbios também requer uma capacidade de se exercitar por um período de tempo prolongado a uma alta porcentagem do VO2max, bem como, uma eficiente conversão da energia produzida para a forma de movimento corporal.

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O treinamento de força também deve ser considerado na preparação

Quanto ao treinamento de força muscular ou treinamento resistido, inicialmente empregado para desenvolver a força dos músculos esqueléticos e hipertrofiá-los, e, em princípio, mais utilizado em meio às atividades desportivas a fim de melhorar os resultados atléticos. Com o passar dos anos, foram verificadas outras vertentes de aplicabilidade do treinamento de força, a saber: esporte de alto rendimento, treinamento de culturistas, melhoria da saúde e reabilitação. Desta forma, o treinamento de força é recomendado hoje para a prevenção e tratamento de inúmeras enfermidades, dentre as quais as doenças cardiovasculares (FLECK; KRAEMER, 2017).

Como sabemos das nossas aulas de Biologia, quando o sangue passa pelos capilares dos tecidos, o oxigênio se separa da hemoglobina e difunde para as células, aumentando a quantidade de oxigênio que pode ser transportada desde os pulmões até os tecidos em cerca de 60 vezes.  Sendo assim, podemos concluir que sim, seu preparo físico irá influenciar de maneira significativa em suas tomadas de decisões, força muscular e resistência nas atividades de montanha.

Não podemos deixar de lembrar a importância do processo de aclimatização onde teremos o aumento do volume sanguíneo e do número de hemácias aumentando a capacidade de transporte de O2.  De outro lado,  a massa muscular e o peso corporal diminuem devido à desidratação e supressão do apetite que provocam o catabolismo proteico, tornando fundamental o treinamento resistido na preparação.

A aventura começa com a preparação adequada

Escolha seu esporte e se prepare de forma adequada, pois a montanha não aceita pessoas despreparadas. Alterações na pressão atmosférica e na PO2 (pressão parcial de oxigênio) em diferentes altitudes podem causar hiperventilação (alcalose respiratória, tonturas, vertigens e enjoo), edemas cerebrais e pulmonares, além de congelamento e cegueira. Quanto mais bem preparados física e psicologicamente, maiores suas chances de sobrevivência e sucesso.

Envie seus comentários, experiências e dúvidas sobre como medir e incrementar a sua capacidade aeróbica e boa aventura!

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Raphael Bonatto é Educador Físico, Especialista em Fisiologia do Exercício, proprietário da Go On Outdoor Assessoria Esportiva e ultra trail runner    Mais que isso é nosso coach incrível e grande amigo!!